quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Caçadores do tempo perdido



Numa das cenas iniciais do primeiro filme (e, pra mim, o melhor) do Indiana Jones, há aquela sequencia antológica do herói tentando sair da gruta de onde havia roubado uma preciosa relíquia, num corre-corre inesquecível. Primeiro, para sair de uma das câmaras da caverna, cujas grades se fechavam (e no ultimo instante ainda “salvando” seu chicote). Depois, a desabalada carreira para escapar da gigantesca bola de pedra que descia velozmente em sua direção.

Acho estas cenas uma boa metáfora para o estilo de vida que temos escolhido, nos dias de hoje. Para conseguir alguma preciosidade (bens, sucesso, poder), a gente está disposta a acelerar e a assumir surpreendentes riscos (como o stress e a saúde).

Só que, ao contrário do professor-arqueólogo-herói, nossas “preciosidades”, que tanto nos seduzem, costumam ser efêmeras e de valor discutível. Perda de tempo em estado puro.

O “Caçadores da Arca Perdida” traz outras ótimas analogias que podem nos ajudar numa reflexão sobre o uso do nosso tempo: o medo, por exemplo (de errar, de desapontar, etc), raiz de muitos de nossos piores hábitos de desperdício de tempo (como a procrastinação). No caso de Indiana, há o medo de cobras. E ele tem que enfrentar não uma, mas milhares delas, para continuar avançando rumo a seu heróico objetivo.

Em outra sequencia inesquecível, diante de um feroz adversário brandindo, ameaçadoramente, sua ágil espada em direção a ele e seu chicote, Jones acaba optando por sacar o revolver e “liquidar” rapidamente o “assunto”, com um tiro. Muitas vezes, nos complicamos com as ferramentas à nossa disposição (como é o caso da tecnologia), sem lembrar daquelas soluções mais simples, diretas e eficazes.

Mas, talvez, uma das lições mais fortes está no próprio enredo. Contratado para encontrar a Arca da Aliança, que segundo as escrituras bíblicas conteria "Os Dez Mandamentos", Jones passa a maior parte da trama disputando o cobiçado tesouro com os nazistas. Não era pra menos. Segundo a lenda, o exército que a possuísse seria invencível. Quando aberta, depois de tanta briga, a Arca se mostra mortal para aqueles que não resistem à tentação de conhecer seu conteúdo.

Passamos anos de nossas vidas correndo atrás de algum objetivo “miraculoso”, algo grandioso que nos transformará e nos trará um grande poder. Ao abrirmos nossa “Arca”, muitas vezes tudo o que encontramos é frustração. É como se tivéssemos lutado para subir até o último degrau de uma íngreme escada encostada na parede; só que ao lá chegarmos, constatamos que era a parede errada. Um irrecuperável tempo perdido...

Ironicamente, o filme acaba com a Arca - resgatada por Jones - “perdida” num remoto e imenso armazem, como que “enterrada” para sempre, junto com seus pretensos poderes.

Mas para nosso Indiana, isso não importa. Outras aventuras e novas conquistas o esperam. Tão importante como a próxima parada, é o sabor das “diversão” ao longo do caminho.

(Imagens de divulgação do filme Caçadores da Arca Perdida)  

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